recordar na onda do optimismo
Na foto, na decadencia, pode ver-se a coelheira e o galinheiro, que construí,
nos anos cinquenta.
RECORDAR NA ONDA DO OPTIMISMO
Devo ter nascido optimista, deve ser uma das minhas facetas congénitas. Devo a mim o direito de achar isso, a minha principal qualidade, que espero manter.
Aqui está o preâmbulo desta charla!
Para que não se pense estar aqui um saudosista, adoptei desde criança o lema - "recordar é viver".
Depois de ter saído da escola primária e de até já ter cumprido, a rogo do meu pai, alguns actos de votação, até para as presidenciais a eleger o Senhor General Craveiro Lopes.
Depois de ter saído da escola primária e de até já ter cumprido, a rogo do meu pai, alguns actos de votação, até para as presidenciais a eleger o Senhor General Craveiro Lopes.
A própria índole levaram-me a nunca ter brincadeiras, que não fossem sérias imitações do quotidiano dos adultos.
Foi assim que, não teria mais de onze anos, comecei a restaurar a loiça que se partia em casa. Daí foi nascendo alguma clientela e consequentemente os meus primeiros centavos.
Recordo o meu poder de imaginação, seria pouco menos do que prodigioso, a ferramenta existente era apenas um martelo. Com brocas em arame de aço, metódicamente, enfiadas em cabos de madeira, da minha autoria.
Foi assim que, não teria mais de onze anos, comecei a restaurar a loiça que se partia em casa. Daí foi nascendo alguma clientela e consequentemente os meus primeiros centavos.
Recordo o meu poder de imaginação, seria pouco menos do que prodigioso, a ferramenta existente era apenas um martelo. Com brocas em arame de aço, metódicamente, enfiadas em cabos de madeira, da minha autoria.
A primeira ferramenta servia para bater velhos arames, partidos aos pedaços e achatando-os, dobrando-os em ângulos rectos nas pontas. Chamavam-se gatos!
Numa segunda fase, com a broca faziam-se vários furos nos cacos da loiça. Depois uniam-se os mesmos pela inserção desses bocadinhos de arame (gatos). No fim alindava-os com cal branca (havia sempre em casa), pratos terrinas, cântaros e por aí fora, ficavam prontos para servirem e duraremm, até que outro tambulhão os fizessem em bocadinhos mais exiguos.
A imaginação para arranjar alguns cobres, estava sempre a aparecer e já consolidada uma fonte de receita, arranjou-se nova, essa já recorrente, visto que o mercado já existia:
- Consistiu numa bola de borracha e todos os que queriam jogar pagavam, salvo erro um tostão, organizava-se um desafio, no campo do Lusitano Clube da Bufarda, este o nome da minha aldeia no Oeste.
Numa segunda fase, com a broca faziam-se vários furos nos cacos da loiça. Depois uniam-se os mesmos pela inserção desses bocadinhos de arame (gatos). No fim alindava-os com cal branca (havia sempre em casa), pratos terrinas, cântaros e por aí fora, ficavam prontos para servirem e duraremm, até que outro tambulhão os fizessem em bocadinhos mais exiguos.
A imaginação para arranjar alguns cobres, estava sempre a aparecer e já consolidada uma fonte de receita, arranjou-se nova, essa já recorrente, visto que o mercado já existia:
- Consistiu numa bola de borracha e todos os que queriam jogar pagavam, salvo erro um tostão, organizava-se um desafio, no campo do Lusitano Clube da Bufarda, este o nome da minha aldeia no Oeste.
Não havia limitações de tempo.
Como foi adquirida a bola, se na aldeia não se vendia?...
Como foi adquirida a bola, se na aldeia não se vendia?...
Simples: o pai tirou o dia para ganhar a jorna. Programou o trabalho para os dois filhos mais velhos a cavar a vinha, que ficava a seis quilómetros da Lourinhã. Combinou-se trabalhar com afinco, para que eu próprio fosse à vila a pé fazer a aquisição, sem que no outro dia o pai desconfiasse da ausência.
Não teria mais do que doze anos.
A imaginação e o verdadeiro espírito de aventura estavam sempre latentes.
A imaginação e o verdadeiro espírito de aventura estavam sempre latentes.
Com estas invenções ia havendo dinheiro, para as realizações pessoais, fora do âmbito do "negócio".
O passo seguinte foi a construção da tão desejada mesa de secretária. A obra foi elaborada a partir da madeira dos caixotes de sabão que os logistas vendiam a dois escudos cada, depois de esgotado o conteúdo, o único detergente que havia para uso.
O passo seguinte foi a construção da tão desejada mesa de secretária. A obra foi elaborada a partir da madeira dos caixotes de sabão que os logistas vendiam a dois escudos cada, depois de esgotado o conteúdo, o único detergente que havia para uso.
Pregos também ali se podiam aquirir.
Ferramentas? O velho martelo, uma faca de cozinha e um serrote, que servia na poda das videiras.
Estava construída a estrura e agora as ferragens? Se as economias não chegavam?
- Simples, dispondo de inegável poder de imaginação, o problema foi resolvido com a inserção de calhas de madeira, para as portas deslizarem.
A primeira dessas realizações foi trocada por velha gillete, com um primo mais velho. É que aos treze anos comecei a rapar os pêlos da cara.
Aquela peça de mobiliário já não satisfazia, as exigências. Construí nova do mesmo modo, mais conseguida, outra sofisticação. Sempre a limitação das medidas da madeira aproveitada dos caixotes.
Esta última durou sempre em casa dos meus pais, até há pouco, quando se deu o fim, mas é provável ainda existir algures.
A madeira e o papel, afinal sempre fizeram parte do minha estrutura psíquica, para além dos tempos infantis.
Do muito, que imaginei jovem, existe em fotografia, uma casota de madeira, para recolher as galinhas a nível da terra.
Estava construída a estrura e agora as ferragens? Se as economias não chegavam?
- Simples, dispondo de inegável poder de imaginação, o problema foi resolvido com a inserção de calhas de madeira, para as portas deslizarem.
A primeira dessas realizações foi trocada por velha gillete, com um primo mais velho. É que aos treze anos comecei a rapar os pêlos da cara.
Aquela peça de mobiliário já não satisfazia, as exigências. Construí nova do mesmo modo, mais conseguida, outra sofisticação. Sempre a limitação das medidas da madeira aproveitada dos caixotes.
Esta última durou sempre em casa dos meus pais, até há pouco, quando se deu o fim, mas é provável ainda existir algures.
A madeira e o papel, afinal sempre fizeram parte do minha estrutura psíquica, para além dos tempos infantis.
Do muito, que imaginei jovem, existe em fotografia, uma casota de madeira, para recolher as galinhas a nível da terra.
Coelhos na divisão superior.
Teria chegado aos catorze anos, a mãe tinha sempre bastantes galinhas poedeiras, patos marrecos e coelhos, de cuja criação ia arranjando o seu pecúlio.
Teria chegado aos catorze anos, a mãe tinha sempre bastantes galinhas poedeiras, patos marrecos e coelhos, de cuja criação ia arranjando o seu pecúlio.
A determida altura, as estruturas de recolha desses animais estavam degradadas, o pai nunca mais decidia arrajar novas, nem tinha muito jeito.
Propus-me então meter mãos à obra. Era de prever que obtinha o apoio da principal interessada, porque o pai, apesar de tudo desdenhava, uma atitude, que talvez incentivasse, porque criava mais responsabilidade.
Bem, juntei a madeira antiga, compraram-se mais algumas peças. Em época de chuva, não se podendo trabalhar no campo, por o terreno estar ensopado, atirei-me à obra.
Para o telhado, as telhas do anterior, mas não havia meio de atinar com a feitura, de modo, a que a água saísse. Aí sim o pai, que começara por assistir com uma ponta de desdém, ensinou e deu gostosamente, a sua ajuda.
Afinal eram assim os anos cinquenta.
Propus-me então meter mãos à obra. Era de prever que obtinha o apoio da principal interessada, porque o pai, apesar de tudo desdenhava, uma atitude, que talvez incentivasse, porque criava mais responsabilidade.
Bem, juntei a madeira antiga, compraram-se mais algumas peças. Em época de chuva, não se podendo trabalhar no campo, por o terreno estar ensopado, atirei-me à obra.
Para o telhado, as telhas do anterior, mas não havia meio de atinar com a feitura, de modo, a que a água saísse. Aí sim o pai, que começara por assistir com uma ponta de desdém, ensinou e deu gostosamente, a sua ajuda.
Afinal eram assim os anos cinquenta.
Agora chamariam a isto, misérias!...
Foto e texto de Daniel Costa
Comentários
Além do que, um otimismo próprio de quem aprendeu a suplantar barreiras.
Não conhecia esta "casa".
Gostei muito e vou voltar.
Aliás, para não me esquecer, vou colocá-lo no Quadro de Honra do meu "cardenho".
Um abraço e parabéns.